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No artigo ?Neurociências e Educação?, eu apresentei uma visão geral da relação entre as duas áreas.  Apesar dessa relação ainda estar em seus primeiros passos, as neurociências já apresentaram numerosas contribuições para a educação, principalmente pela compreensão do funcionamento do cérebro em diferentes situações, incluindo os processos de aprendizagem, e pela avaliação dos resultados obtidos por diferentes métodos de ensino. Em relação à alfabetização, alicerce sobre o qual se assentam as demais aprendizagens escolares, as neurociências mostraram o funcionamento do cérebro durante a leitura e quais processos de ensino são mais eficazes para formar leitores fluentes.

O sistema nervoso humano é programado geneticamente para a aquisição e utilização da linguagem desde o início da vida. Entretanto, isso é verdade apenas para a linguagem oral, não existem estruturas cerebrais específicas para a aprendizagem da linguagem escrita. A evolução é um processo muito lento e a escrita é uma invenção cultural que ocorreu há aproximadamente cinco mil anos. A aprendizagem dos sistemas escritos é possível graças à neuroplasticidade. O cérebro humano possui uma flexibilidade tal que lhe permite tanto planejar como caçar um mamute como escrever ?Romeu e Julieta? ou a 9a Sinfonia. Nossa incrível estrutura biopsicológica nos torna aptos para a produção cultural.

Os estudos realizados pelas neurociências, com as modernas tecnologias de imagem, permitiram ?ver? o funcionamento do cérebro durante as atividades de leitura e chegaram a conclusões convergentes e consistentes ?sobre as seguintes questões: Como funciona o cérebro durante as atividades de leitura? Quais as competências necessárias a essa aprendizagem? Quais os défices que as dificultam? Quais os componentes dos métodos educativos que conduzem a um maior sucesso?? (TELES, 2004: p. 713)

Os resultados desses estudos mostram que os métodos eficazes para a alfabetização são os que ensinam explicitamente:


Essas competências devem ser ensinadas de forma estruturada e cumulativa, começando pelos elementos mais fáceis e básicos e progredindo gradualmente para os mais difíceis, com revisão sistemática dos conceitos, para manter e reforçar sua memorização. ?Os diferentes conceitos devem ser ensinados direta, explícita e conscientemente, nunca por dedução.? (TELES, 2004: p.728) Além disso, as competências devem ser treinadas até a automatização, para que sejam realizadas sem atenção consciente e com o mínimo de esforço e tempo, para que a atenção seja direcionada apenas para a compreensão do texto. Só assim é possível formar leitores competentes, que leiam com fluência e se concentrem totalmente na compreensão daquilo que leem.

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Assista ao vídeo sobre este conteúdo no meu canal do YouTube: https://youtu.be/RKv1CauPs7o.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


OECD. Understanding the brain: the birth of a learning science. Paris: OECD ? Organisation for Economic Co-operation and Development, 2008. Disponível em: <https://www.oecd.org/site/educeri21st/40554190.pdf>. Acesso em 31 mar. 2008.


?TELES, Paula. Dislexia: como identificar? Como intervir?. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, [S.l.], v. 20, n. 6, p. 713-30, nov. 2004. Disponível em: <http://www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/10097/9834>. Acesso em 19 mar. 2012.